Caindo do Cavalo • Facilitando com Estruturas Libertadoras

por Keith McCandless

Superar maus hábitos é algo difícil de se fazer. Abaixo, eu detalho minha luta para impedir comportamentos improdutivos e compartilho algumas dicas para “voltar para a sela”.

  1. Falando demais
  2. Fazendo convites vagos, sem objetivo ou irrelevantes
  3. Colocando a barra muito baixa: aceitando o que quer que aconteça
  4. Seguindo em frente sem primeiro olhar para trás
  5. Negligenciando novos usos imaginativos
  6. Facilitando timidamente
  7. Adaptando-se a espaços inadequados

1) Falando demais

Meu erro mais comum é falar demais sobre a origem ou teoria por trás das microestruturas das Estruturas Libertadoras (LS). E acho que os participantes se interessam tanto quanto eu.
Além disso, eu falo mais quando estou um pouco nervoso ;^)

Voltando para a sela: declare o objetivo da atividade em 1 minuto ou menos e então comece o que você está convidando os participantes a fazer.

  • Eu costumo parafrasear o subtítulo da Estrutura (por exemplo, 9 Whys: tornar claro o propósito do seu trabalho em conjunto)
  • Uma opção é compartilhar um exemplo de resultado muito claro (para 9 Whys, aqui está um propósito poderoso que é uma expressão coletiva de propósitos pessoais … a Iniciativa das Religiões Unidas existe para deter toda violência religiosa em todos os lugares do mundo)
  • Faça o que for preciso para se acalmar antes de começar (por exemplo, respire profundamente)
  • Coloque a curiosidade e uma pergunta no lugar de uma declaração ou conselho que você é tentado a dar

Nas Estruturas Libertadoras, o foco está diretamente na experiência do usuário e na autodescoberta entre os membros do grupo, não na experiência ou no conhecimento do facilitador. Uma abordagem minimalista, menos-é-mais para a facilitação é útil.

2) Fazendo convites vagos, sem objetivo ou irrelevantes

Meu segundo erro mais comum é oferecer um convite conceitual confuso  –  não vinculado a uma atividade tangível, à realidade local do participante ou a uma finalidade prática. Sem clareza, o excesso de explicação torna um convite vago ou irrelevante ainda pior.

Voltando para a sela: inicie a atividade com uma estrutura muito clara.

  • Faça o convite (por exemplo, você está convidado a entrevistar uma outra pessoa sobre o que ela faz quando está trabalhando em ____, e por que o que ela faz é importante para ela);
  • Especifique como o espaço e os materiais são usados ​​(por exemplo, frente-a-frente, joelho-a-joelho, anote frases-chave que resumem seu propósito fundamental);
  • Especifique como a participação é distribuída (todos têm a oportunidade de contribuir!)
  • Especifique as configurações de grupo (2–4-Todos) e, em seguida, lembre-as conforme necessário;
  • Especifique o tempo (10 minutos para o total, 5 minutos para cada entrevista);
  • Se estiver trabalhando em grupos grandes, projete um slide com essas informações.
  • Ajude a indicar que a descrição inicial está completa perguntando: “Está claro o convite? Se sim, podem começar!
  • Esteja certo de que algumas pessoas vão desejar mais clareza  – clareza que só pode surgir partir delas se engajando na atividade. Peneirar, organizar e compreender as alternativas é um trabalho para os membros do grupo concluírem –  não para o facilitador.
  • Os convites devem ser gentis, provocativos e ambíguos, de modo que cada pessoa traga seu próprio significado para a festa.

Propositalmente, você é precisamente ambíguo e intencionalmente minimalista ao iniciar as Estruturas Libertadoras. Clareza surge a partir da interação do grupo. Ajude-os a perceber quando isso acontece … e, em seguida, suba a marcha!

3) Colocando a barra muito baixa: aceitando o que quer que aconteça

Meu terceiro erro mais comum é não checar, esclarecer e pedir exemplos mais tangíveis à medida que a experiência se desenrola. Eu posso ser muito tímido ao pedir mais rigor e clareza. Eu nem sempre encorajo e provoco amorosamente o suficiente para que todos possam performar em alto nível. Muitas vezes o grupo sabe que precisa se esforçar mais para obter melhores soluções. É meu trabalho lembrá-los de que são capazes de muito mais.

Voltando para a sela: Ajude os participantes a progredir conforme a experiência se desenrola.

  • No meio do caminho, use um sino ou gongo para fazer uma breve interrupção e checar com os participantes, pedindo alguns depoimentos rápidos dos grupos — a agilidade aqui é eficaz.
  • Peça um exemplo de algo interessante, surpreendente ou esclarecedor que esteja surgindo das conversa. O que se destaca? E daí? Existe um padrão?
  • Se você não for um membro do grupo, peça ajuda para clarear os próximos passos. Se apóie nas pessoas do grupo para ajudá-lo a perceber o que é novo, uma fonte de discordância produtiva ou um trampolim para a ação e descoberta.
  • Amplifique ou confirme insights e sucessos tangíveis; tente redirecionar rapidamente as pessoas que podem ter se perdido (é mais fácil afirmar o sucesso do que corrigir)
  • Fique à vontade para diferenciar a qualidade dos insights. As contribuições brilhantes vão quicar pela sala de grupo em grupo. Nenhuma pessoa ou grupo conduzirá toda a ação.
  • Certifique-se de registrar os principais insights e ações em seus processos. Torne-os visíveis em grandes papéis nas parede. A contribuição dos participantes para o progresso pode não ser imediatamente visível.
  • Pergunte: “Nós examinamos todas as profundezas e exploramos todos os picos?” “Precisamos ir mais fundo ou voltar a este tópico?”

Com depoimentos rápidos de alguns pequenos grupos, os participantes se encorajam uns aos outros e dão forma aos próximos passos muito rapidamente. Você brinca e capta as idéias e ações que estão tomando forma.

4) Avançando sem primeiro olhar para trás

Meu quarto erro mais comum é não dedicar tempo para refletir sobre o que acabou de acontecer … ou o que aconteceu bem antes da interação atual.

Voltando para a sela: Dedique tempo para curtas reflexões ao longo do caminho.

  • Pergunte repetidamente: “O que você percebeu sobre a experiência?” Ou “Para endereçar este tópico, o que fica de toda a experiência que compartilhamos até o presente momento?”
  • Você pode sugerir um 1–4-Todos ou simplesmente pedir alguns comentários
  • Observe o que é produzido e como aproveitar os resultados na definição dos próximos passos
  • Comece com comentários sobre a experiência de usar as Estruturas Libertadoras e depois migre para o novo conteúdo ou novas ideias que surgiram
  • Convide as pessoas a observar os elementos de design da microestrutura: convite estruturado, participação distribuída, grupos configurados, espaço organizado e horário programado.

Pergunte: O que a estrutura tornou possível? Como esta estrutura é diferente do que você normalmente faz?

5) Negligenciando Novos Usos Imaginativos

Meu quinto maior erro é não dedicar tempo para imaginar e, então compartilhar diversas ideias de aplicação imediatamente após a reflexão.

Voltando para a sela: Dedique tempo, após a reflexão sobre a experiência, para idéias de aplicações e histórias

  • Você pode sugerir um 1-Todos ou simplesmente pedir alguns comentários; um ou dois minutos para pensar tranquilamente é muito produtivo
  • Você pode convidar as pessoas a pensar em aplicações em escalas maiores e menores
  • Pergunte: “O que parece ser possível agora?” e “Quais são outras possibilidades próximas? Que novas idéias estão pairando ao redor da atual condição?”
  • Você pode compartilhar exemplos da sua experiência
    Convide outras pessoas com experiência para compartilhar histórias curtas

Pergunte: Em quais outros contextos e para quais desafios você se imagina usando esta Estrutura Libertadora? O que parece possível agora?”

6) Facilitando Timidamente

Meu sexto erro mais comum é a timidez. Isso acontece quando eu não honro os elementos de design da microestrutura (por exemplo, não manter a experiência em movimento com ciclos rápidos). Pode parecer desajeitado ou um pouco rude interromper as pessoas, ajustar configurações (por exemplo, pares que não sejam trios) ou seguir em frente antes que todos se sintam confortáveis.

Voltando para a sela: Seja ousado! Acredite antes de ver os resultados. Tenha certeza de que serão gerados resultados produtivos e melhores que o esperado!

  • Siga as regras simples ou especificações mínimas de cada Estrutura… então você pode mudá-las
  • Revise cuidadosamente as especificações mínimas antes de começar
  • Avise todos de antemão que você vai interromper as pessoas e fazer mudanças rápidas nas configurações, a fim de co-criar a melhor experiência
  • Siga os limites de tempo com um relógio audível e visível (você pode por exemplo projetar um relógio de contagem regressiva em uma tela)
  • Reconheça que todas as vozes não serão ouvidas em nenhum processamento
  • Convide os participantes a reunirem todas as idéias / sugestões / ações fabulosas em post-its em um papel na parede” (por exemplo, para o TRIZ, um mapa de ações a serem interrompidas)
  • Lembre a todos que a mágica acontece quando os insights e a ação emergem de suas próprias interações, não dos esforços do facilitador ou de um único líder
  • Se uma Estrutura estiver saindo dos trilhos, pare e recomece do início.

Siga as regras simples ou especificações mínimas de cada Estrutura… então você pode mudá-las. Improvise depois que você estiver confiante com o formato básico. Equilibre a intenção deliberada enquanto está aberto a surpresas e ao acaso.

7) Se acomodando a espaços inadequados

Meu sétimo erro é me acomodar em um local ou espaço para reuniões que não seja adequado para um alto nível de engajamento, frequente movimentação e uma co-criação confusa. Mesas maciças, paredes entulhadas de coisas, acústica ruim e cadeiras fixas sufocam a co-criação.

Voltando para a sela: Tornar explícitas as minhas necessidades, lutar arduamente para conseguir o espaço mais flexível, mesmo quando é desconfortável, e chegar cedo para corrigir problemas.

  • Envie o formato desejado da sala e as necessidades de recursos de áudio-visual bem antes do evento ou reunião
  • Peça fotos, checagens de som e diagramas para confirmar o que está disponível
    Envie fotos e exemplos de formatos de sala e equipamentos apropriados com antecedência
  • Todo mundo precisa ouvir e ver tudo o que acontece — mais microfones, telas de projeções múltiplas e rolos de papel para trabalhar nas paredes podem realmente ajudar com grandes grupos
  • Chegar a locais com tempo extra suficiente para resolver problemas

Diga: Vamos alterar as configurações da sala várias vezes durante a nossa reunião. Precisamos de paredes livres, espaço extra para movimentar as cadeiras, áreas adjacentes para interação social informal e sistemas de projeção e som de alto nível.

O que é possível parar

A lista “Parar de Fazer” de Keith

Ao longo dos anos, minha liderança e prática de facilitação mudou dramaticamente. Eu achei útil notar o que parei de fazer, bem como o que comecei a fazer. Eu me libertei abandonando as práticas na coluna da esquerda.

Prevenindo as recaídas aos padrões dominantes
1–2–4-All: Como podemos aumentar a resiliência de hábitos novos e frágeis?

Tente reconhecer que os novos hábitos desencadeados pelas Estruturas Libertadoras são frágeis, enquanto os hábitos de controle excessivo e controle insuficiente estão bem estabelecidos. Seja gentil com você mesmo. Ande nos sapatos dos outros quando velhos hábitos retornarem. Recaídas acontecem! Moldar a direção com todos, simultaneamente e mutuamente, é um novo conjunto de comportamentos! O domínio vem da experiência: sucessos + quedas do cavalo.

Meus agradecimentos ao meu co-autor e freqüente co-facilitador Henri Lipmanowicz. Ele me ajudou a perceber quando estava caindo do cavalo. À medida que desenvolvemos o repertório de Estruturas Libertadoras, o coaching honesto e direto fez toda a diferença. Para desenvolver rapidamente suas habilidades, recomendamos coaching em paralelo e co-facilitação com um ou mais parceiros.

*Keith McCandless é um dos autores das Estrutura Libertadoras — Liberating Structures.
Esta é uma tradução feita por Fernando Loureiro autorizada pelo autor. Veja aqui o artigo original (em inglês).

 

Este trabalho é licenciado sob as regras Creative Commons